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A festa da insignificância

Autor

Milan Kundera

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca

As consequências de fazer parte do exército daqueles que pedem desculpas

“ ... — Não repare. Meu humor está péssimo. Preciso conversar.

— Adivinhou. Eu também estou de mau humor. E você, por quê?

— Porque estou com raiva de mim. Por que aproveito todas as ocasiões para me sentir culpado?

— Isso não é grave.

— Se sentir ou não se sentir culpado. Acho que tudo depende disso. A vida é uma luta de todos contra todos. É sabido. Mas como essa luta acontece numa sociedade mais ou menos civilizada? As pessoas não podem se atirar umas sobre as outras sempre que se encontram. Em vez disso, tentam jogar no outro o constrangimento da culpabilidade. Ganhará aquele que conseguir tornar o outro culpado. Perderá aquele que reconhecer a culpa. Você vai pela rua, mergulhado em pensamentos. Em sua direção vem uma moça, como se estivesse sozinha no mundo, sem olhar nem para a esquerda nem para a direita, indo direto em frente. Vocês se esbarram. Eis o momento da verdade. Quem vai insultar o outro, e quem vai se desculpar? É uma situação-modelo: na realidade, cada um dos dois é ao mesmo tempo o que sofreu o esbarrão e o que esbarrou. E, no entanto, há os que se consideram, imediatamente, espontaneamente, os que esbarram, portanto culpados. E há os outros, que se veem sempre, imediatamente, espontaneamente, como os que sofreram o esbarrão, portanto no seu direito de acusar o outro e de fazer com que este seja punido. Você, numa situação como essa, você se desculparia ou acusaria?

— Eu certamente pediria desculpas.

— Ah, coitado, você também pertence ao exército dos desculpantes. Pensa que vai agradar o outro com desculpas.

— Sem dúvida.

— Você se engana. Quem se desculpa se declara culpado. E se você se declara culpado, encoraja o outro a continuar te injuriando, te denunciando, publicamente, até sua morte. São as consequências fatais do primeiro pedido de desculpas.

— É verdade. Não devemos pedir desculpas. E, no entanto, eu preferiria um mundo em que todas as pessoas se desculpassem, sem exceção, inutilmente, exageradamente, por nada, que se desmanchassem em desculpas...”

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