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Como ler um escritor
Autor
John Freeman
Editora
Objetiva
Tradução
Helena Londres
Ser romancista: mostrar a realidade vivendo na fantasia
“... Sua vida sofreu uma mudança dramática nos últimos cinco anos: você ganhou o Prêmio Nobel; foi processado de acordo com a Lei 301 do código turco; e declarou, em outras entrevistas, que o seu método de trabalho é, em alguns casos, perambular pelas cidades – neste caso, Istambul – e absorver a inspiração, quando ela aparece. Eu imagino que esse método de trabalho tenha sido um pouco perturbado nos últimos quatro ou cinco anos. Você encontrou um jeito de continuar a trabalhar em meio a isso tudo?
Na verdade, sobrevivi facilmente a esses cinco anos – ou com maior facilidade, talvez – porque estava escrevendo esse romance. Se eu começo a trabalhar às sete da manhã, e se escrevo durante cinco horas e acrescento uma ou duas páginas e meia ao romance, o resto do dia fica mais fácil para mim. A ideia de que é preciso ter uma vida pacata para se dedicar a escrever um romance é tão verdadeira para mim quanto para outros romancistas. Por outro lado, tenho o hábito de conseguir escrever em períodos difíceis. Escrever me ajuda a sobrepujar as dificuldades da vida, sejam elas uma pressão política, um problema pessoal ou econômico – seja lá o que for. Escrever e estar afastado das imagens jornalísticas do dia a dia sempre me fazem prosseguir. De fato, foi por isso que me tornei romancista: uma pessoa que, embora mostre a realidade, está, em parte, vivendo na fantasia. Acho que o desejo de escrever romances é também um forte paralelo de estar afastado do presente, embora o romance possa mostrar elementos conflitantes dele.“