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Declínio de um homem

Autor

Osamu Dazai

Editora

Estação Liberdade

Tradução

Ricardo Machado

O álcool como a penúltima saída

“ ... A saída para tudo era o álcool. Meu rosto adquirira uma expressão desprezível, fui perdendo os dentes por beber shochu desde as primeiras horas do dia, e meus mangás haviam se tornado quase pornográficos. Não, vou ser sincero: nessa época, eu copiava ilustrações pornográficas e vendia como contrabando. Precisava de dinheiro para beber. Quando olhava para Yoshiko e via que ela desviava o olhar sem saber como agir, imaginava que, se ela era uma mulher totalmente sem cautela, aquela talvez não tivesse sido a única vez com aquele comerciante. Ou ainda: e Horiki? Talvez alguma outra pessoa? Dúvidas geravam dúvidas, mas eu não tinha a menor coragem para perguntar-lhe direta e claramente. Com meus conhecidos anseios e medos girando em minha cabeça, eu apenas seguia bebendo e, bêbado, tentava interrogá-la com indiretas e de modo covarde. Meu coração saltava entre a alegria e a tristeza, enquanto na superfície eu fazia piadas sem parar. Depois disso, eu submetia Yoshiko a terríveis carícias infernais, e adormecia profundamente, como se afundasse na lama.

No final daquele ano, cheguei em casa tarde numa certa noite, completamente embriagado, e pensei em tomar um copo de água com açúcar. Como Yoshiko parecia adormecida, fui até a cozinha. Quando encontrei o pote de açúcar, abri a tampa e vi que ele estava vazio, havia apenas uma caixinha preta de papel, longa e estreita. Peguei-a desinteressado, mas, ao ler o rótulo da caixa, fiquei atônito. O rótulo estava quase totalmente raspado à unha, mas ainda podia-se ler os caracteres ocidentais: DIAL.

Dial. Nessa época eu contava apenas com a bebida e nunca tomava soníferos. A insônia, entretanto, era um mal constante para mim, por isso conhecia quase todos eles. O conteúdo daquela caixa de Dial era mais que suficiente para levar alguém à morte. O lacre da caixa ainda estava intacto. Tempos atrás, num impulso, ela devia tê-la escondido ali, após raspar o rótulo. Pobre menina, ela não sabia ler caracteres ocidentais, logo pensou que bastava raspar metade do rótulo com as unhas. (Você não tem culpa.)

Procurando não fazer o menor ruído, enchi um copo com água e rompi devagar o lacre da caixa. Enfiei todo o conteúdo na boca, bebi a água calmamente, apaguei a luz e fui dormir.”

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Osamu Dazai

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Ricardo Machado

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Idealizado por Afonso Machado - Todos os direitos reservados

Design e mentoria por Victor Luna

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