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Desejo

Autor

Elfriede Jelinek

Editora

Tordesilhas

Tradução

Marcelo Rondinelli

O poder e autoridade do dinheiro submetendo a mulher a um corpo

“... Ocorre que ele, afinal, tem outras preocupações, pois ninguém carrega sozinho a vida. Ele carrega em cima a cabeça e embaixo sua carteira genital, que trouxe consigo para sua mulher, até que os olhos dela irão brilhar, você vai ver! A alta renda mensal desse homem lhe proporciona uma alegria indelével, saber que sua cabeça é esfregada pela bênção do dinheiro. Nós, porém, figuras serviçais, somos conhecidas! Somos reconhecidas, pois nas profundezas há vida pulsante, aí entram torrentes de pessoas no restaurante. Logo teremos levado nosso animal para o seco, onde cai sobre suas necessidades o orvalho venenoso do banco emissor de moeda. Sofrem sob nosso demasiado agudo crescimento os insignificantes, que não podem dar o passo maior que a perna, que têm horas de

viagem a atravessar antes de se postar, com as cabecinhas descobertas diante de seus subterfúgios e superiores. Seus desejos não podem ser realizados e vão a pique sob a foice das economias (oh, o que economizam as pessoas!). Sim, esse diretor está totalmente em seu elemento. Ele impõe limites a passos desmedidos, pois é incomensuravelmente rico para as pessoas que aprendem a cair ao lado

dele silenciosas como folhas. Para que não o incomodem quando está tocando violino. Ele não vê razão para se deter, por que é que deveria?, atrás das barreiras de seu cinto, que o veste bem – pois talvez um outro tenha habitado em sua mulher do modo como só ele pode estar habituado. Muito obrigada por você ter ouvido com atenção os meus insultos.

Delicado, bem aquele trovão domado que ele consegue ser quando é bem colocado sobre sua mulher, curva-se sobre a pele dela, que exala vapores como os de um animal. Agora ela quer dormir. Só que não estava gentilmente acompanhada quando essa vontade lhe sorriu. Está cheia de seu passado mais recente; e, se nos reunirmos bem próximos, também perceberemos isso: aos jovens pertence o futuro, caso tenham estudado e seus pais tenham aprendido a colocá-los para se enfrentar no balcão que vende a carne no limite da qualidade mínima para consumo. Os filhos do vizinho devem cair como fruta podre. E essa mulher já está aberta a um amor desesperançado, apaziguada como a gaiola do coelho no dia seguinte ao abate, ela já empurrou todos os seus móveis para dentro, sim, e colaram para ela um papel de parede florido! De sua xoxota só sai ainda um caminhozinho estreito, onde ele, o estudante, está em pé com todos os meus leitores e esperando que ele, culto, discreto em seu faro, possa entrar de novo. Se todos nós mantivermos nossa união e nos ativermos à economia de tudo o que temos, então talvez nossas suspeitas se confirmem. Não somos necessárias! Se é que temos mesmo a permissão de viver bem, então será no máximo na memória de um animal querido a quem trouxemos a ração, ou de uma pessoa querida a quem nós mesmas servimos de ração.“

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Elfriede Jelinek

Autor

Elfriede Jelinek

Editora

Tordesilhas

Tradução

Marcelo Rondinelli

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Idealizado por Afonso Machado - Todos os direitos reservados

Design e mentoria por Victor Luna

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