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Dinorá

Autor

Dalton Trevisan

Editora

Record

Tradução

Vampiro vampirando vampiro

“... QUEM TEM MEDO DE VAMPIRO?
Há que de anos escreve ele o mesmo conto? Com pequenas variações,
sempre o único João e a sua bendita Maria. Peru bêbado que, no círculo de giz,
repete sem arte nem graça os passinhos iguais. Falta-lhe imaginação até para
mudar o nome dos personagens. Aqui o eterno João: "Conhece que está morta." Ali
a famosa Maria: "Você me paga, bandido."
Quem leu um conto já viu todos. Se leu o primeiro pode antecipar o último –
bem antes que o autor. É a sagrada família de barata leprosa com caspa na
sobrancelha, rato piolhento na gravata de bolinha, corruíra nanica do dentinho de
ouro. Trincando broinha de fubá mimoso e bebendo licor de ovo?
Mais de oitenta palavras não tem o seu pobre vocabulário. O ritmo da frase,
tão monótona quanto o único tema, não é binário nem ternário, simplesmente

primário. Reduzida ao sujeito sem objeto, carece até de predicado – todos os
predicados.
Presume de erótico e repete situações da mais grosseira pornografia. No
eterno sofá vermelho (de sangue?) a última virgem louca aos loucos beijos com o
maior tarado de Curitiba. Explica-se: não foi ele fabricante de tradicionais vasos de
barro? E seus contos, o que são? Miniaturas de bispote em série, com florinha e
filete dourado.
Um mérito não se lhe pode negar: o da promoção delirante. Faz de tímido,
não quer o rosto no jornal – e sempre o jornal a publicá-lo. Nunca deu entrevista e
quanta já foi divulgada, com fotos e tudo? Negar o retrato é uma secreta forma de
vaidade, a outra face do cabotino.
Pretende, forte modéstia, ser o último dos contistas menores – e não é que
tem razão? Aliás, nem contista. Nas frases mutiladas e estripadas, um simples
cronista de fatos policiais. Nele não há postura ética e moral. Nem simpatia e amor
pelo semelhante. Só e sempre os tipos superficiais de dramalhão, fantoches vazios,
replicantes sem alma. Vítimas e carrascos no circo de crueldade, cinismo, obsessão
do sexo, violência, sangue – e onde o único toque de humor? Iconoclasta ou
alienado, abomina o social e o político. Daí as caricaturas desumanas, os velhinhos
pedófilos, museu de monstros morais, como reconhecer num deles o teu duplo e
irmão?
Mestre, sim, no plágio descarado: imita sem talento o grafito do muro, a
bula do remédio, o anúncio da sortista, a confissão do assassino, o bilhete do
suicida. Sinistro espião de ouvido na porta e olho na fechadura. Não é o pasticho a
falsa moeda desse mercador sovina de gerúndios?
Exibicionista, quer o nome sempre em evidência. Já ninguém fala ou escreve
sobre seus livros – e você os suporta, um por ano, todo ano? Na fúria do
ressentido, busca atingir as nossas glórias sacrossantas: Emiliano, a poesia, Turin,
a escultura, Mossurunga, a música. Tudo em vão: a grotesca imagem do vampiro
já desvanecida aos raios fúlgidos da História.
Pérfido amigo, usará no próximo conto a minha, a tua confidência no santuário do
bar. Cafetão de escravas brancas da louca fantasia, explora a confiança de velhas,
viúvas e órfãs. Ó maldito galã de bigodinho e canino de ouro, por que não desafia
os poderosos do dia: o banqueiro, o bispo, o senador, o general? “

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Dalton Trevisan

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