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Folias de Aprendiz

Autor

Geraldo Carneiro

Editora

História Real

Tradução

Quando Capitu descaradamente capitula

“... Para escapar do baixo-astral, eu lia e relia Machado de Assis, desde os primeiros romances até meus favoritos, Memórias póstumas de Brás Cubas e os contos. Achei abrigo e diversão no ceticismo machadiano e no seu modo de criar personagens frívolos e cínicos, dispostos a descumprir os pactos e a palavra empenhada, voltar atrás em suas falsas convicções e às vezes chegar ao requinte de perceber o ridículo da própria impostura. Em suma, não eram mais os heróis românticos: era gente como a maior parte dos seres humanos que eu via no colégio.

Confesso que não gostei tanto de Dom Casmurro, talvez porque a questão central do livro, o ser ou não ser de Bentinho, me parecesse antiquada. Nunca me interessou saber se Capitu teve ou não seu romance extraconjugal com Escobar, embora eu percebesse que Bentinho tinha um talento irresistível para marido traído.

Já naquele tempo, intuí que Machado era autor de parábolas fundamentais para a compreensão do Brasil. Li a novela O alienista, numa coletânea que Autran Dourado dedicara a meu pai. Percebi que aqui, nos subúrbios do Ocidente, não é fácil distinguir sanidade e loucura. Depois li Esaú e Jacó, protagonizada por um par de gêmeos que pertencem a partidos políticos antagônicos, monarquista e republicano. Ambos são radicais na defesa de seus credos. No final da história, por motivos fúteis, os dois trocam de partido, o republicano vira conservador e vice-versa. Machado parece dizer que, pelo menos no Brasil, a fidelidade ideológica é igual a Capitu. Se bobear, ela capitula.

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Geraldo Carneiro

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