Ilona chega com a chuva

“... Os dias passavam tranquilamente. As chuvas foram se espaçando e entramos em cheio no soberbo verão do istmo que tem para mim secretas e muito eficazes virtudes de exaltação. Mencionei um dia o assunto de nossas economias e Ilona comentou: “Olhe, vamos esquecer este assunto por enquanto. Se nos preocuparmos com isto, você sabe muito bem que não vai aparecer nenhuma solução. Além do mais, não há pressa. Sim, eu sei, este não é um lugar para passar o resto da vida. E um lugar assim nem existe. Pelo menos para nós. O ruim das crises como a que você acaba de sofrer é que minam essa confiança no acaso, essa fé no inesperado que são as condições essenciais para se encontrar a saída. Deixe as coisas rolarem, elas trazem a chave escondida. Se se procura, perde-se a faculdade de descobri-la”. Tinha razão. Percebi, então, a profundidade de minha queda e até onde esta entorpecera e paralisara as molas dos mecanismos que nos dá uma confiança cega em nosso destino. Essa certeza propícia que tantas vezes me resgatara de pântanos ainda piores que este, do qual escapava graças a Ilona e à chuva que, como sempre, a trouxera.“

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