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Ioga oara quem não está nem aí

Autor

Geoff Dyer

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Sergio Flaksman

Escrever como lei da autocompensação

“... Uma tarde, quando eu estava sentado à beira do Mississipi, um trem de carga passou ruidosamente pelos trilhos às minhas costas, andando muito devagar. Eu, que sempre tive vontade de pegar carona como clandestino num trem de carga, me levantei de um salto, tentando reunir coragem para subir no trem em movimento. O comprimento do comboio, além de sua velocidade lenta, indicava que eu tinha muito tempo — tempo demais — para considerar a ideia, mas tive medo de arrumar encrenca ou me machucar, e fiquei ali parado bem uns cinco minutos, assistindo à passagem barulhenta dos vagões de carga, até que eles finalmente sumiram e o trem já tinha acabado de passar. Ao vê-lo fazer a curva e sair da minha vista, vi-me tomado por um remorso tingido de magnólias, o tipo de sentimento que você tem quando vê uma mulher na rua, seus olhos cruzam com os dela por um instante, mas você não faz o menor esforço para lhe dirigir a palavra, depois ela some e você passa o resto do dia pensando que, se tivesse dito alguma coisa, ela teria gostado, e vocês poderiam até, talvez, ter-se apaixonado um pelo outro. Você se pergunta como seria o nome dela. Ângela talvez. Em vez de pegar o trem de carga andando, voltei para o meu apartamento na Esplanade e fiz o personagem do romance em que estava trabalhando pegar um trem que passava.

Quando você está sozinho, escrever pode lhe fazer companhia. É também uma forma de autocompensação, de suprir a falta de coisas — nada a ver com simplesmente inventar coisas — que não chegaram exatamente a acontecer...



Aspirante a escritor



“... Em Roma, eu vivia no grande estilo dos escritores. Não fazia praticamente nada o dia inteiro. Coisa nenhuma. Talvez por isso eu fosse um modelo tão sedutor para os aspirantes a escritor das redondezas. Mais precisamente para Nick, o jovem americano que morava em frente, que ainda não lera nenhum dos meus livros e para quem meu nome não significava nada. Ainda assim, ele ficou sabendo — por mim — que eu era escritor, um homem que vivia da pena, e costumávamos trocar algumas palavras por sobre o abismo sem sol que separava sua varanda da minha. Era um modo adorável de trocar ideias sobre literatura e a vida literária, por assim dizer. Lá estávamos nós, dois jovens escritores, um inédito e o outro já não tão jovem, unidos pelo nosso amor ao ócio e à maconha. Nick era da Califórnia, e não perdi tempo em contar-lhe que eu era o autor de vários livros, nenhum dos quais à venda na livraria inglesa da Via del Moro. Ele ensinava inglês em Roma — era como ganhava dinheiro —, mas também vinha trabalhando num conto, possivelmente uma série de contos, ligados entre si de um modo que não tinha o menor interesse para mim nem para mais ninguém...

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