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Meu último suspiro

Autor

Luis Buñuel

Editora

Cosac & Naify

Tradução

André Telles

No recolhimento alcóolico do fim de um dia de trabalho, cercado por reproduções de quadros de Zurbarán, de repente alguma coisa acontece

“... No Hotel del Paular, no norte de Madri, instalado num dos pátios do magnífico mosteiro gótico, eu tinha o hábito de tomar meu aperitivo da noite numa sala comprida com colunas de granito. À exceção dos sábados e domingos, dias sempre nefastos, quando turistas e crianças barulhentas espremem-se por toda parte, eu ficava praticamente sozinho, cercado por reproduções de quadros de Zurbarán, um dos meus pintores favoritos. A sombra silenciosa de um garçom passava ao longe de tempos em tempos, respeitando meu recolhimento alcoólico.

Posso dizer que adorei esse lugar como um velho e querido amigo. No fim de um dia de passeio e de trabalho, Jean-Claude Carrièrre, que colaborava nos roteiros, me concedia 45 minutos de solidão. Dali a pouco, pontualmente, seus passos ressoavam no chão de lajes de pedra. Sentava-se à minha frente, e eu me via na obrigação – era um acordo entre nós, pois creio que a imaginação é uma faculdade do espírito que pode ser treinada e desenvolvida, como a memória – de lhe contar uma história, curta ou comprida, que eu acabara de imaginar durante meus 45 minutos de devaneio. Essa história podia ser engraçada ou melodramática, sangrenta ou celestial. O essencial era contar.

A sós com as cópias de Zurbarán e as colunas de granito, essa admirável pedra de Castela, na companhia privilegiada de minha bebida favorita (voltarei a isso daqui a pouco), eu me abstraía, fora do tempo, sem esforço, abrindo-me para as imagens que logo se esgueiravam no recinto. Às vezes pensava em assuntos familiares, planos prosaicos, e de repente alguma coisa acontecia, uma ação, em geral surpreendente, delineava-se, personagens surgiam, falavam, expunham seus conflitos, seus problemas. Volta e meia eu ria sozinho no meu canto. Às vezes, quando sentia que essa ação inesperada podia ser útil ao roteiro, retrocedia, tentava organizar as coisas, com maior ou menor sucesso, e guiar minhas ideias errantes. “

Mais de

Luis Buñuel

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