O ano da leitura mágica
Autor
Nina Sankovitch
Editora
Leya Brasil
Tradução
PauloPolzinoff
Somos aquilo que gostamos de ler
“ … Livros que me eram entregues com as palavras “Leia isso. Adorei e sei que você também vai gostar”.
Mas e se eu não gostasse do livro? E se eu o odiasse? Nos últimos meses, houve um ou outro livro, por mim escolhido, que eu começara, mas cuja leitura interrompi porque havia ficado claro para mim que eu não gostara do livro e que ele não melhoraria se eu avançasse a leitura. Com livros dados por amigos, eu não tinha escapatória. O livro era um presente e os presentes devem ser lidos. É uma das regras da amizade. E todos os livros lidos tinham de ser resenhados: era uma regra do meu ano de leituras. Eis, portanto, meu dilema. Eu não podia julgar o livro presenteado com umas poucas palavras, “Interessante” ou “Adorei o cenário”. Eu tinha de escrever uma resenha completa e verdadeira.
As pessoas compartilham os livros que amam. Elas querem espalhar para os amigos e familiares a sensação boa que sentiram ao ler o livro ou as ideias que encontraram nas páginas deles. Ao compartilhar um livro amado, um leitor está tentando compartilhar o mesmo entusiasmo, prazer, medo e ansiedade que experimentou ao ler. E por que mais o fariam? Compartilhar o amor pelos livros ou por um livro específico é uma boa coisa. Mas é também uma manobra arriscada para ambos os lados. Quem dá o livro não está exatamente expondo a alma para uma rápida olhada, mas quando o entrega com o comentário de que é um de seus preferidos, está muito próximo de expô-la. Somos aquilo que gostamos de ler e quando admitimos que adoramos um livro, admitimos que este livro representa verdadeiramente algum aspecto do nosso ser, seja o fato de sermos loucos por romance, ou por aventura, ou secretamente fascinados por crimes.
Na outra ponta está quem recebe o livro oferecido. Se for uma pessoa sensível, ela sabe que a alma do amigo que lhe oferece o livro está exposta e que ela, a pessoa que o recebe, não deve espiar a alma do amigo. Não estou exagerando. Há dezesseis anos uma amiga de trabalho me emprestou As pontes de Madison, de Robert James Waller. Li o livro numa só noite e, quando o discuti com Mary, fiz alguns comentários sobre ter achado que o livro era manipulador e inverossímil.
– Claro que fiquei acordada até a madrugada lendo-o – eu queria saber se eles se reencontrariam –, mas aquele livro não tem nada a ver com a maneira como as pessoas de verdade se relacionam. É romantismo absurdo.
Mary me disse que eu não havia entendido nada e parou de vir até a minha mesa ou de conversar sobre o cotidiano no trabalho. Ao dizer que o livro era tolo, eu a havia chamado de tola. E eu não repetiria esse equívoco. Mas como eu iria resenhar um livro de que não gostara se ele me foi dado por um amigo ou amiga de quem eu gostava muito? ”