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O ofício

Autor

Serguei Dovlátov

Editora

Kalinka

Tradução

Talento: o otimista e o pessimista

“ ... Minhas obras passavam de mão em mão. Assim conheci Bítov, Maia Daníni, Rid Gratchóv, Voskobóinikov, Leónov, Aró... Todos eles me tratavam com cordialidade. Da velha geração, Métter, Gor, Bakínski mostraram interesse por meus contos.

Gránin, um clássico da nossa literatura, também os leu. Depois me convidou para ir a sua datcha. Entabulamos uma conversa ao lado do fogão.

— Nada mal — repetia Daniil Aleksándrovitch, folheando meu manuscrito —, nada mal...

Atrás da parede, ouviam-se passos.

Gránin refletiu um pouco e disse:

— Mas não é publicável.

Respondi:

— Talvez. Já não sei de onde os escritores soviéticos vão tirar seus temas. Nada ao redor é publicável...

SOLO NA UNDERWOOD

Em Tbilíssi, realizou-se uma conferência:

"O otimismo da literatura soviética".

Entre outros, o poeta Narovtchátov se apresentou. Falou sobre o otimismo inesgotável da literatura soviética. Em seguida, o escritor georgiano Kemoklidze foi à tribuna: "Uma pergunta ao orador anterior".

"Pois não respondeu Narovtchátov.

"Quero fazer uma pergunta sobre Byron. Ele era jovem?”

“Sim”, surpreendeu-se Narovtchátov, "Byron morreu relativamente jovem. Mas por quê? Por que se interessa por isso?"

"Outra pergunta sobre Byron. Ele era bonito?"

"Sim, Byron era dotado de uma aparência fascinante. É um fato conhecido..."

"Mais uma pergunta, ainda sobre Byron. Ele era abastado?"

"É claro. Era um lorde. Dono de um castelo... Por Deus, que perguntas excêntricas..."

"E a última pergunta sobre Byron. Ele tinha talento?"

"Byron foi um grande poeta da Inglaterra! Não compreendo, do que se trata?"

"Agora entenderá. Tome o exemplo de Byron. Ele era jovem, bonito, abastado e talentoso. E era pessimista. E você é velho, pobre, feio e sem talento. E é otimista!"

Gránin disse:

— O senhor está exagerando. Um literato deve publicar. Claro que não em detrimento de seu talento. Há uma espécie de fenda entre a consciência e a infâmia. É preciso se meter nessa fenda.

Criei coragem e disse:

— Me parece que perto dessa fenda foi montada uma armadilha para lobos.

Houve um silêncio penoso.

Eu me despedi e fui embora.”

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