O que não está escrito nos meus livros
Autor
Viktor E. Frankl
Editora
É Realizações
Tradução
Cláudia Abeling
Abençoado seja o destino
“ … Enquanto eu me apaixonava pela psiquiatria de modo geral, e especialmente pela psicanálise, a filosofia não me deixou mais. Havia um grupo de trabalho de filosofia na Universidade Popular, dirigido por Edgar Zilsel. Aos quinze ou dezesseis anos, dei uma palestra lá sobre simplesmente - o sentido da vida. Naquela época eu estava desenvolvendo duas de minhas ideias centrais: que, na verdade, não podemos questionar sobre o sentido da vida, porque somos nós mesmos que estamos sendo questionados – somos nós que temos de responder às perguntas que a vida nos coloca. E essas perguntas que a vida nos coloca só podem ser respondidas à medida que somos responsáveis pela nossa própria existência.
A outra ideia fundamental diz, porém, que o último sentido transcende nossa capacidade de compreensão, precisa transcendê-la. Resumindo, trata-se de um “suprassentido” como eu o chamei, mas não no sentido de algo metafisico. Podemos apenas acreditar nele. Mas também devemos acreditar nele. E mesmo que apenas inconscientemente, todos já acreditamos nele.
Deve ter sido na mesma época, quer dizer, eu devia ter a mesma idade: ainda me vejo naquele lugar da Taborstraße, num daqueles passeios de domingo à tarde tão tipicamente meus, quando me ocupei com o pensamento solene, por assim dizer: Abençoado seja o destino, crível seja seu sentido.
Isso quer dizer que tudo o que acontece com a pessoa deve ter algum sentido último, ou seja, um suprassentido. Mas podemos não conhecer esse suprassentido, é preciso acreditar nele. No fim das contas, trata-se de uma redescoberta do amor fati divulgado por Espinosa, do amor ao destino. ”