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O vale do issa

Autor

Czeslaw Milosz

Editora

Novo Século

Tradução

O refúgio ideal para sonhar acordado

“ ... Um dia, sua avó o levou ao sótão e mostrou-lhe uma caixa cheia de todos os tipos de bugigangas, a maioria lixo, exceto por uma coisa: livros! Livros de aventura! Um era sobre um passageiro clandestino que se escondeu no convés de um navio, manteve-se vivo à base de pão e era constantemente ameaçado por ratos. A água que mais tarde encontrou em alguns barris era chamada de "água doce". Tinha sido adoçada com açúcar? Assim Thomas imaginava, pois de que outra forma poderia explicar-se o êxtase do menino quando conseguiu abrir um buraco no barril?

O melhor lugar para sonhar acordado com essas e outras aventuras era o anexo, que ficava no final de um caminho protegido por copas de pés de groselha. A porta do anexo era trancada por dentro e a abertura em forma de coração podia ser usada para visualizar quem quer que viesse em direção a ele. Algumas fendas deixavam a luz do sol entrar, e havia sempre o som dos mosquitos, das abelhas e dos zangões. De vez em quando, um zangão peludo, zumbido alto, vagueava para dentro do fosso (cujo fedor Thomas inalava com prazer). Os cantos estavam sempre cheios de aranhas tecendo suas teias, a trave-mestra manchada de estearina, deixada pelas velas. Havia fendas também nas paredes laterais, através das quais não havia nada para ver, a não ser folhas do sabugueiro negro.

Ao ver Antonina passar pelo coração na porta, ele despertava de seus sonhos e abotoava as calças rapidamente. Do outro lado do caminho, havia um fosso onde Antonina abatia as galinhas. Seus lábios enrugavam e as bochechas salientavam-se; ela erguia um braço segurando o cutelo e manobrava a galinha sobre o pedaço de tronco com o outro; apenas levemente agitada, a galinha parecia passiva, de curiosidade preguiçosa ou indiferente, era difícil dizer. O cutelo brilhou, o rosto de Antonina enrugado pela dor, até mesmo com um fraco sorriso forçado, e uma massa coberta de penas eram então vistos caindo sem direção sobre o chão. Thomas estremecia ao ver, e exatamente porque estremecia, mantinha-se espectador. O degolamento tornava-se algo extraordinário. Um galo, um enorme pássaro eriçado com penas douradas cintilando, tentava fugir sem a cabeça, apenas com o toco vermelho de pescoço sobressaindo. Seu voo mudo fez Antonina ficar de queixo caído - e admirada, pois o galo caiu somente após colidir com um tronco.”

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Czeslaw Milosz

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Design e mentoria por Victor Luna

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