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Rakushisha

Autor

Adriana Lisboa

Editora

Rocco

Tradução

A pequena confluência entre pratos descasados e o melhor saquê

“... 19 de junho (à tarde)
Aproximo-me do livro. O diário de Bashõ em Saga. São cinco e dez, uma
tarde úmida e clara. Sozinha, vejo Kyoto do alto. Em algum lugar, nos arredores
desta cidade, fica a Rakushisha, a Cabana dos Caquis Caídos.
No pequeno aparelho de som coloquei a música Haruki que me trouxe de
presente, antes de ir para Tóquio. Gagaku. Que em japonês, segundo o encarte
do CD, significa música elegante, correta ou refinada.
Não há um maestro regendo a orquestra. Os músicos seguem o toque do
tambor.

Presas com um ímã na porta da geladeira estão as instruções para a coleta
seletiva de lixo. Sobre a pia, os pepinos e os tomates, as maçãs, os cogumelos e
o alho. As pessoas que moraram antes neste apartamento deixaram coisas, e o
pequeno espaço é uma pequena confluência do mundo também, um palimpsesto
de gente que passou, mas quis firmar o atestado da sua passagem numa ou
noutra pequena gentileza.
Deixaram um filtro de café. Duas únicas e idênticas taças de vinho. Pratos
descasados, xícaras de chá idem. Um resto de amaciante de roupas e um
pouquinho de detergente. O aparelho de fazer arroz.
Aproximo-me do diário de Bashõ, cuja tradução para o português Haruki se
prepara para ilustrar e que foi o motivo de sua viagem ao Japão. Leio:
No ano quatro da era Genroku, do Filho do Fogo e do Carneiro, na décima
oitava lua das Dêutzias, viajo a Saga, à Casa de Kyorai, à sua Cabana dos Caquis
Caídos. Bonchõ, que me acompanha, volta para Kyoto ao cair da tarde. Quanto a
mim, que planejo ficar por certo tempo, deram-me um quarto num ângulo da
Cabana, cujos tabiques foram refeitos e o jardim, limpo das ervas daninhas.
Prepararam ali uma mesa de trabalho, uma estante de livros com as coletâneas
de Poemas Chineses Hakushi e Honchõ Ichinin Isshû, a Narrativa Yotsugi, a
Narrativa de Genji, o Dário de Tosa e a Coletânea de Poesia Clássica Japonesa
Matsuba. Numa caixa de laca de cinco andares, pintada com pó de ouro em estilo
chinês, colocaram vários tipos de doces, bem como uma garrafa do melhor saquê
e cálices. Roupas de cama, bem como diversas iguarias, foram trazidas de Kyoto,
e nada me falta. Esqueço minha miséria e aprecio plenamente esse bem-estar
sossegado. “

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