Sobre a leitura
Autor
Marcel Proust
Editora
L&PM
Tradução
Júlia da Rosa Simões
Muito mais que determinação o chamado, a missão
“…“Me lembro dele (Proust) sempre transpirando, sufocado, dobrado sobre a cama, a fumaça enchendo o quarto. Fiquei horrorizada, não sabia o que fazer, e ele me pedindo que fosse embora e voltasse apenas se a campainha chamasse. À noite, ele tocou. Estava deitado, a crise mais calma. Me pediu que ficasse morando na casa definitivamente. Já sabia que podia contar comigo, eu tinha passado pela prova. Concordei, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Acho que desde o início houve entre nós um grande entendimento. Estava determinado que eu ficaria. M. Proust me confessou uma coisa que também deveria estar amadurecendo há muito tempo: ‘Minha querida Céleste, nunca mais vou a Cabourg. Ou a qualquer outro lugar. Não viajo mais. Os soldados fazem seu dever. Como não posso lutar ao lado deles, o meu dever é escrever um livro, fazer a minha obra. O tempo passa. Não posso perdê-lo’.” A partir dessa noite de setembro de 1914, conta Céleste, Proust se retirou do mundo para o que seria nos próximos oito anos (e últimos de sua vida) o único motivo de viver: escrever sua obra. E Céleste também aceitou como se fosse natural. “O que me surpreende até hoje é a facilidade com que me habituei a uma existência para a qual não tinha sido preparada.”