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Tipos de perturbação

Autor

Lydia Davis

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Branca Vianna

TV. A nossa noite de cada dia

“... Televisão

1.

Temos várias séries favoritas todas as noites na TV. Eles avisam que vai ser bom e sempre é.

Eles nos dão indicações do que está por vir e aí vem e é muito bom.

A expectativa é tanta que mesmo que tivesse zumbis andando na nossa rua nossa excitação não seria menor.

Queremos participar de tudo.

Queremos ser as pessoas a quem eles se dirigem quando dizem o que está por vir naquela noite ou no resto da semana.

Vemos os comerciais à exaustão, fustigados por listas: querem que compremos tantas coisas, e tentamos comprar tudo, mas não temos muito dinheiro. Mesmo assim, é impossível não admirar a inteligência por trás disso tudo.

Como fazer para agir com tanta segurança quanto as pessoas que aparecem na TV? As mulheres são tão centradas, como não são as mulheres da minha família.

Acreditamos neste mundo.

Acreditamos que eles se dirigem a nós.



Mamãe, por exemplo, está apaixonada pelo âncora. E meu marido fica olhando uma jovem repórter, esperando a câmera se afastar e revelar os seios dela.

Depois do noticiário, escolhemos um programa de auditório e em seguida uma série de investigação policial.

As horas passam. Nosso coração continua a bater, às vezes devagar, às vezes rápido.

Tem um programa de auditório que é especialmente bom. Toda semana o mesmo homem aparece no auditório, com a boca fechada e lágrimas nos olhos. Seu filho vai voltar ao palco para responder a mais perguntas. O menino fica lá, piscando os olhos diante das câmeras. Ele não poderá voltar na semana que vem para responder a mais perguntas se ganhar a soma final de cento e vinte e oito mil dólares. O menino não nos interessa muito, nem a mãe, que fica sorrindo com seus dentes cariados, mas o pai nos comove: os lábios pesados, os olhos úmidos.

E por isso tiramos o telefone do gancho durante o programa e não atendemos à campainha, que quase não toca. Assistimos atentamente, e meu marido aperta os lábios e depois dá um sorriso tão largo que seus olhos ficam pequenininhos. Quanto a mim, eu me recosto, como a mãe do olhar afiado, minha boca cheia de ouro.

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Lydia Davis

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