Vida e época de Michael k

“... Michaels está consciente de novo. A primeira coisa que fez foi arrancar a sonda do nariz; Felicity chegou tarde demais para impedir. Ele agora está deitado perto da porta, debaixo de uma pilha de cobertores, parecendo um cadáver, se recusando a comer. Com o braço-palito empurra o frasco de alimentação. "Não é o tipo de coisa que eu como", é tudo o que diz.

"E que diabo você come?", pergunto. "E por que está nos tratando assim? Não está vendo que a gente está tentando ajudar?” Ele dá um olhar de serena indiferença que realmente me deixa furioso. "Tem centenas de pessoas morrendo de fome todo dia e você não come! Por que? Está de jejum? É uma greve de fome? É isso? Você está protestando contra o quê? Quer sua liberdade? Se a gente soltar você, se colocamos você na rua nesse estado, vai morrer dentro de vinte e quatro horas. Não pode cuidar de si mesmo, não sabe como. Felicity e eu somos as únicas pessoas no mundo que se dão ao trabalho de te ajudar. Não porque você seja especial, mas porque é o nosso trabalho. Por que você não colabora?"

Esse bate-boca aberto causou uma grande agitação na ala. Todo mundo ouviu. O rapaz que eu desconfiava estar com meningite (e que eu peguei ontem enfiando a mão embaixo da saia de Felicity) se ajoelhou na cama, se esticando para olhar, um grande sorriso na cara. A própria Felicity parou de fingir que estava passando o esfregão.

"Nunca pedi tratamento especial", grasnou Michaels. Virei as costas e saí.

Você nunca pediu nada, e assim mesmo virou um albatroz pendurado no meu pescoço. Seus braços ossudos estão em volta da minha cabeça, e ando curvado com o seu peso.“

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