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A última escala do velho cargueiro

Autor

Álvaro Mutis

Editora

Record

Tradução

Luís Carlos Cabral

O capitão basco Jon Iturri, a bordo de um rebocador, fala de Abdul Bashur e Maqroll el Gaviero, entre aperitivos e o calor noturno dos trópicos

“ ... O libanês se chamava Abdul Bashur e tinha uma boa reputação nos meios comerciais, aduaneiros e bancários, não apenas de Antuérpia como de outros portos da Europa. Estava, de fato, envolvido com uma grande variedade de interesses e atividades. Nem todas eram muito claras ou estreitamente relacionadas com o trabalho de um armador, mas isso era comum nos levantinos, fossem eles libaneses, sírios ou tunisianos. Iturri estava acostumado a essas oscilações de caráter, e elas não o surpreendiam nem preocupavam. Não conseguiu entender com clareza o nome do outro, mas percebeu que ele também era chamado de Gaviero. Bashur o tratava com uma intimidade absoluta; ouvia-o com muita atenção quando falava de assuntos relacionados ao comércio marítimo e à operação de cargueiros nos mais remotos lugares do mundo. O basco não conseguiu descobrir se Gaviero era um apelido, um sobrenome ou simplesmente uma designação ligada a alguma atividade que exercera na juventude. Era um homem de poucas palavras, dotado de um senso de humor peculiar e corrosivo, muito cuidadoso e sensível em relação aos amigos, conhecedor das mais inusitadas profissões e, sem ser um mulherengo muito consciente, seria quase possível dizer que era dependente da presença feminina. Fazia, frequentemente, a este respeito, ligeiras alusões e dava explicações a Bashur, que se limitava a registrá-las com um vago sorriso.

Antes de dar prosseguimento à história do capitão, devo fazer um breve aparte. No momento em que ele mencionou os nomes de Bashur e Gaviero, senti-me na obrigação de contar-lhe que conhecia muito o primeiro de nome, precisamente pela boca do segundo, um velho amigo meu cujas confidências e relatos estava reunindo há muitos anos por considerá-los interessantes para quem gosta de conhecer as vidas extraordinárias dos seres excepcionais, das pessoas que vivem fora do leito banal da cinzenta rotina de nossos tempos de resignada estupidez. Achei, no entanto, que, se o narrador soubesse dos meus vínculos com aquela pessoa, poderia interromper suas confidências ou suprimir delas os episódios que envolvessem Bashur ou Gaviero. Preferi, então, calar. Quando o marinheiro basco terminou a sua história, dei-me conta de que agira corretamente; não teria contribuído em nada deixar que fosse informado sobre um passado que para ele estava, claramente, sepultado para sempre – se não no esquecimento, na treva irrevogável daquilo que nunca há de voltar.“

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