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Formas de voltar para casa

Autor

Alejandro Zambra

Editora

Cosac & Naify

Tradução

José Geraldo Couto

O escritor na espera de uma voz romanesca

"...  Voltar a falar com ela foi bom e talvez necessário. Contei sobre o novo romance. Disse que no começo avançava a passo firme, mas que aos poucos tinha perdido o ritmo ou a precisão. Por que não o escreve de uma vez?, me aconselhou, como se não me conhecesse, como se não tivesse estado comigo ao longo de tantas noites de escrita. Não sei, respondi. E na verdade não sei mesmo.

O que acontece, Eme, penso agora, um pouquinho bêbado, é que espero uma voz. Uma voz que não é a minha. Uma voz antiga, romanesca, firme.

Ou então é que eu gosto de estar no livro. É que eu prefiro escrever a já ter escrito. Prefiro permanecer, habitar esse tempo, conviver com esses anos,perseguir longamente imagens esquivas e examiná-las com cuidado. Vê-las mal,mas vê-las. Ficar ali, olhando."

 

Nós, os personagens secundários

 

"...  Naquele tempo já conhecíamos os truques, transmitidos de geração em geração. Ensinavam-nos a ser malandros e aprendíamos rápido. Em todas as provas havia um item de identificação de personagens, que incluía meros personagens secundários: quanto menos relevante fosse, maior a possibilidade de que nos perguntassem por ele, de modo que memorizávamos os nomes com resignação e também com a alegria de cultivar uma pontuação segura. Era importante saber que o jovem coxo de recados se chamava Hippolyte e a criada, Félicit é, e que o nome da filha de Emma era Berthe Bovary.

Havia certa beleza no gesto, pois éramos então justamente isso, personagens secundários, centenas de meninos que cruzavam a cidade mal equilibrando as bolsas de lona. Os moradores do bairro experimentavam o peso e faziam sempre a mesma piada: parece que você leva pedras na mochila. O centro de Santiago nos recebia com bombas de gás lacrimogêneo, mas não levávamos pedras e sim tijolos de Baldor ou Ville ou Flaubert.

 

Um livro é o reverso de um outro livro, estranho, transformado numa prosa passável

 

"...  Hoje telefonou meu amigo Pablo para me ler esta frase que encontrou num livro de Tim O’Brien: “O que adere à memória são esses pequenos fragmentos estranhos que não têm princípio nem fim”.

Fiquei pensando nisso e perdi o sono. É verdade. Recordamos, mais propriamente, os ruídos das imagens. E às vezes, ao escrever, limpamos tudo, como se desse modo avançássemos para algum lado. Deveríamos simplesmente descrever esses ruídos,essas manchas na memória. Essa seleção arbitrária, nada mais. Por isso mentimos tanto, afinal. Por isso um livro é sempre o reverso de outro livro imenso e estranho. Um livro ilegível e genuíno que traduzimos, que traímos pelo hábito de uma prosa passável."

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