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O gigante enterrado

Autor

Kazuo Ishiguro

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Sonia Moreira

O barqueiro que, para permitir a travessia, interroga os casais para descobrir a verdade do afeto e do vínculo amoroso

“ ... Parado no seu lugar de costume, perto da parede, o barqueiro a observava com atenção.

"O senhor falou de seu dever de interrogar todo casal que esteja esperando para fazer a travessia", Beatrice continuou. "Falou da necessidade de descobrir se o vínculo de amor entre os dois é forte o bastante para permitir que eles morem juntos na ilha. Bem, senhor, eu fiquei pensando sobre isso. Que tipo de perguntas o senhor faz para descobrir o que precisa?"

Por um momento, o barqueiro pareceu hesitar. Depois, disse: “Para ser franco, boa senhora, não me cabe falar sobre esses assuntos. Na verdade, nem deveríamos ter nos encontrado hoje, mas algum curioso acaso nos uniu e não lamento que isso tenha acontecido. Os senhores foram bondosos e ficaram do meu lado, e eu lhes sou grato por isso. Então, vou responder da melhor forma que me for possível. Como a senhora disse, é meu dever interrogar todos que desejem fazer a travessia até a ilha. Se é um casal tal como a senhora falou, que acredita que o vínculo entre eles é forte o bastante, tenho que pedir a cada um deles que me relate suas lembranças mais caras. Eu peço a um e depois ao outro que faça isso. Eles têm que falar separadamente. Dessa forma, a verdadeira natureza do vínculo que existe entre o casal logo se revela".

"Mas não é difícil, senhor, ver o que realmente há no coração das pessoas?", perguntou Beatrice. "As aparências enganam com tanta facilidade."

"É verdade, boa senhora, mas nós, barqueiros, já vimos tantos viajantes ao longo dos anos que não demoramos muito a perceber o que está por trás das aparências. Além disso, quando os viajantes falam de suas lembranças mais caras, é impossível para eles ocultar a verdade. Um casal pode declarar estar unido por amor, mas nós, barqueiros, podemos ver em vez disso ressentimento,

raiva e até ódio. Ou um enorme vazio. Às vezes, só o medo da solidão e mais nada. Um amor infinito, que resistiu à passagem dos anos, isso nós só encontramos raramente. E quando encontramos, temos enorme prazer em transportar o casal junto. Boa senhora, já falei mais do que devia."

"Eu te agradeço por isso, barqueiro. Era só para satisfazer a curiosidade de uma velha. Agora nós vamos deixá-lo em paz.”

"Que vocês tenham uma boa viagem.” ”

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