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Pureza

Autor

Jonathan Franzen

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Jorio Dauster

Um vislumbre do que é a eternidade

“ ... Tierney ligou a câmera e deixou Andreas vê-lo apagar, uma a uma, as imagens em que seu rosto era visível. Andreas se recordou do dia, numa década diferente, numa vida diferente, quando tinha varrido a pornografia de seu computador, assim como uma de suas falas favoritas de Mefistófeles: Acabado! Uma palavra idiota. Acabado como? Acabado e puro nada: totalmente a mesma coisa! "Agora acabou!" O que se deve entender por isso? É como se nunca tivesse existido.

Mas não era como se nunca tivesse existido. Bastava Tierney mencionar o incidente em qualquer lugar on-line e ficaria na nuvem para sempre. Nas semanas que se seguiram, enquanto Andreas fechava a casa de praia e trocava e-mails fortemente encriptados com Tad Milliken, sua paranoia deitou raízes e floresceu. Ao entrar em qualquer servidor digitando uma palavra-chave junto com seu nome, não se contentava mais em ler a primeira ou as duas primeiras páginas de resultados. Ficava imaginando o que haveria na próxima página, a que ainda não tinha lido; e, depois de examinar a outra página, encontrava outra mais. Repetir, repetir. Parecia não haver limite para a tranquilização de que necessitava. Estava tão imerso e enrolado na internet, tão emaranhado no totalitarismo do sistema, que sua existência on-line dava a impressão de ser mais real que a da pessoa física. Os olhos do mundo, mesmo os de seus seguidores, não eram importantes por si próprios, no mundo físico. Que importância tinham os pensamentos privados de qualquer pessoa sobre ele? Pensamentos privados não existiam da forma recuperável, disseminável e legível em que as informações digitais estavam disponíveis. E, já que uma pessoa não podia existir em dois lugares ao mesmo tempo, quanto mais ele existia como a imagem que a internet fazia dele, menos sentia sua existência como ser de carne e osso. A internet significava morte e, ao contrário de Tad Milliken, ele não podia se refugiar na esperança de uma vida posterior na nuvem.

O objetivo da internet e das tecnologias a ela associadas consistia em "liberar" a humanidade de muitas tarefas — fazer coisas, aprender coisas, lembrar coisas — que no passado haviam dado significado à vida e, assim, constituíam a vida. Agora parecia que a única tarefa que significava qualquer coisa era a otimização dos mecanismos de busca. Uma vez instalado e operando na Bolívia, ele criou uma pequena equipe de hackers e assistentes femininas, todos fervorosamente crentes na missão que os unia e se valendo de meio legítimos e ilegítimos para executar o trabalho. O sonho de Tad de uma reencarnação luxuosa podia ser tecnologicamente irrealista, mas era uma metáfora de algo real: se — e apenas se — alguém tivesse suficiente dinheiro e/ou capacitação tecnológica, poderia controlar sua persona na internet e, desse modo, seu destino e vida virtual além da morte. Otimizar ou morrer. Matar ou ser morto.”

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