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A balada de Adam Henry
Autor
Ian McEwan
Editora
Companhia das Letras
Tradução
Jorio Dauster
Os espíritos dançam em volta do não dito
“ ... Fez-se silêncio enquanto ele bebia e ela olhava através da sala para nada em especial.
Então ele disse: "Olha, Fiona, eu te amo”.
Depois de alguns segundos, ela disse: "Prefiro que você durma no quarto de hóspedes".
Ele baixou a cabeça em sinal de concordância. "Vou pegar minha mala."
Jack não se levantou. Ambos conheciam a vitalidade do não dito, cujos espíritos invisíveis dançavam agora em volta deles. Ela não lhe dissera para se manter fora do apartamento, aceitando tacitamente que ele podia dormir lá. Ele não lhe dissera ainda se a especialista em estatística o havia mandado embora, ou se ele tinha mudado de opinião, ou se já havia experimentado um êxtase suficiente para durar até o túmulo. A mudança das fechaduras não fora comentada. Ele provavelmente achou estranho Fiona ter chegado tão tarde. Ela mal suportava olhar para ele. O que se fazia necessário agora era uma briga, com vários capítulos se estendendo ao longo do tempo. Talvez houvesse algumas digressões rancorosas, o arrependimento de Jack poderia vir embrulhado em reclamações, talvez demorasse meses até ela recebê-lo na cama, o fantasma da outra mulher era capaz de pairar entre eles para sempre. Mas eles provavelmente encontrariam uma forma de recuperar, mais ou menos, o que haviam tido antes.”