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Máquinas como eu – E gente como vocês

Autor

Ian McEwan

Editora

Companhia das Letras

Tradução

Jorio Dauster

Adão e Eva, robôs, sofrendo de uma dor existencial insuportável

“ ... “Dois reparos. Essa inteligência não é perfeita. Nunca pode ser, assim como a nossa não pode. Há uma forma particular de inteligência que todos os A-Es sabem que é superior à deles. Essa forma é altamente adaptável e inventiva. Capaz de lidar com novas situações e paisagens com total facilidade e teorizar sobre elas com um brilho instintivo. Estou falando sobre a mente de uma criança antes que ela seja sobrecarregada com fatos, coisas práticas e metas. Os A-e-Es entendem mal a ideia de brincar – o método vital de exploração das crianças. Eu fiquei interessado na avidez de seu Adão com respeito a esse menino, muito desejoso de abraçá-lo e depois, como me contou, distante quando seu Mark mostrou tanta satisfação em aprender a dançar. Quem sabe uma rivalidade, até mesmo até mesmo ciúme?

“Em breve teremos de nos despedir, sr. Friend. Infelizmente vamos receber convidados para o jantar. Mas minha segunda observação. Esses vinte e cinco homens e mulheres artificiais postos no mundo não estão se dando bem. Talvez estejamos confrontando uma condição fronteiriça, uma limitação que nos impusemos. Criamos uma máquina com inteligência e autoconsciência para jogá-la em nosso mundo imperfeito. Desenvolvidas em geral segundo linhas racionais, benevolentes com relação aos outros seres, tais mentes logo se veem em meio a um furacão de contradições. Temos vivido com elas, e a lista nos cansa. Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies. E todo o resto – genocídio, tortura, escravidão, assassinato em família, abuso sexual de crianças, mortandade em escolas, estupro e dezenas de violências cotidianas. Vivendo em meio a esses tormentos, não nos surpreendemos quando ainda encontramos felicidade, até mesmo o amor. As mentes artificiais não são tão bem protegidas assim.

“Outro dia, Thomas me relembrou o famoso verso da Eneida de Virgílio: Sunt lacrimae rerum – há lágrimas na natureza das coisas. Nenhum de nós sabe ainda como codificar tal percepção. Duvido que seja possível. Queremos que nossos novos amigos aceitem que a tristeza e a dor são a essência de nossas vidas? O que acontece quando lhes pedimos que nos ajudem a lutar contra a injustiça? Aquele Adão de Vancouver foi comprado por um homem que dirige uma empresa internacional de exploração de madeira. Ele frequentemente está em luta com as pessoas da região que querem impedi-lo de derrubar as florestas virgens do norte da Columbia Britânica. Sabemos com certeza que esse Adão era levado de helicóptero em visitas regulares ao norte. Não sabemos se o que ele viu lá fez com que destruísse sua própria mente. Só podemos especular. As duas Evas suicidas em Riad viviam em condições extremamente restritas. Podem ter se desesperado com o mínimo espaço mental de que dispunham. Talvez sirva como consolo aos programadores do código de afeição saber que morreram abraçadas. Eu poderia lhe contar outras histórias similares de tristeza das máquinas.”

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