Mr. Gwyn

“ ... De volta a Londres, Jasper Gwyn transcorreu os primeiros dias caminhando pelas ruas da cidade de maneira prolongada e obsessiva, com a deliciosa convicção de ter se tornado invisível. Já que havia parado de escrever, em seu âmago tinha também deixado de ser um personagem público — não havia razão para que as pessoas o notassem, agora que se tornara de novo um qualquer. Começou a se vestir sem cuidado, e voltou a fazer muitas pequenas coisas sem a preocupação de estar apresentável no caso de ser repentinamente reconhecido por um leitor. A postura que assumia no balcão do pub, por exemplo. Andar de ônibus sem pagar. Comer sozinho no McDonald's. De vez em quando alguém o reconhecia, e ele então negava ser quem era.

Havia um monte de outras coisas das quais não precisava mais se ocupar. Era como um daqueles cavalos que, tendo derrubado o jóquei, refazem o trajeto, distraídos, em trote miúdo, enquanto os outros ainda se esfalfam perseguindo uma meta e uma ordem de chegada qualquer. A delícia de tal estado de espírito era infinita. Quando lhe acontecia topar com um artigo de jornal ou uma vitrine de livraria que lhe recordavam a luta da qual acabava de se retirar, sentia o coração ficar leve, e respirava uma embriaguez infantil de sábado à tarde. Fazia anos que não se sentia tão bem.”

‍