menu

Veja na Amazon

Três vezes ao amanhecer

Autor

Alessandro Baricco

Editora

Alfaguara

Tradução

Joana Angélica D’Ávila Melo

O amor na corrente sempre movediça da vida

“ ... Só depois que comeram e arrumaram tudo, a mulher disse que precisava ir. Foi buscar a tralha do garoto no carro, o casaco e as outras coisas, e voltou para colocar tudo em cima do sofá, dentro de casa. Do garoto, simplesmente apertou a mão, porque era uma detetive, e fez algumas recomendações que o fizeram sorrir. Depois lhe indicou o homem com um pequeno aceno da cabeça.

Veja se consegue dar uma olhada nele, de vez em quando, disse em voz baixa. Esse aí pode aprontar desastres que você nem imagina.

Ela e o homem se despediram sem dizer nada, um beijo nos lábios. Apenas um pouco mais demorado – fechando os olhos, ele.

Entrou no carro, varrendo antes, com a mão, as pipocas que estavam sobre o assento. Travou o cinto de segurança mas depois ficou ali, sem ligar o motor. Olhava aquela casa, diante de si, e pensava na misteriosa permanência das coisas na corrente sempre movediça da vida. Estava pensando que a cada vez, vivendo com elas, acaba-se por deixar-lhes em cima como que uma leve mão de tinta, a cor de certas emoções destinadas a desbotar, sob o sol, em lembranças. Estava também pensando que devia encher o tanque e que refazer toda aquela estrada, sozinha, seria um tédio colossal. Pelo menos não está escuro, disse a si mesma. Então viu a porta da casa se abrir e o homem sair, sempre de camiseta e descalço, vindo em passos lentos em direção a ela. Parou ao lado da porta do carro. A mulher virou a chave no painel e baixou o vidro, mas não completamente. Ele apoiou ali a mão.

O vento está bom, disse. Talvez a gente pudesse dar uma volta pela baía.

A mulher não disse nada. Mantinha os olhos fixos na casa.

Você pode ir embora à tardinha, qual é o problema?, disse o homem.

Então a mulher se voltou para ele e viu o mesmo rosto de tantas outras vezes, os dentes tortos, os olhos claros, os lábios de garoto, aqueles cabelos espetados na cabeça. Demorou um pouco para dizer alguma coisa. Estava pensando na misteriosa permanência do amor, na corrente sempre movediça da vida.”

Mais de

Alessandro Baricco

Autor

Alessandro Baricco

Editora

Alfaguara

Tradução

Joana Angélica D’Ávila Melo

citoliteratos

Idealizado por Afonso Machado - Todos os direitos reservados

Design e mentoria por Victor Luna

citoliteratos

Idealizado por Afonso Machado - Todos os direitos reservados

Design e mentoria por Victor Luna

citoliteratos

Idealizado por Afonso Machado - Todos os direitos reservados

Design e mentoria por Victor Luna