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Paris é uma festa

Autor

Ernest Hemingway

Editora

Bertrand Brasil

Tradução

Enio Silveira

Julgando-se livre para andar a esmo em Paris, depois de ter conseguido escrever a frase verdadeira e avançar a partir daí

“... Era maravilhoso descer os longos lances de escada sabendo que meu trabalho correra bem. Eu sempre trabalhava até que tivesse alguma coisa acabada e parava quando sabia o que ia acontecer depois. Desse modo podia ter a certeza de continuar no dia seguinte. Mas, às vezes, quando iniciava um novo conto e não achava jeito de continuá-lo, sentava-me junto ao fogo, espremia nas chamas as cascas das pequenas laranjas-cravo e espiava as fagulhas azuis que elas faziam. Levantava-me, punha-me a contemplar os telhados de Paris e pensava: “Não te aborreças. Sempre escreveste antes e hás de escrever agora. Tudo o que tens a fazer é escolher uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que souberes. Assim, finalmente conseguia escrever uma frase verdadeira e avançava a partir daí. A coisa não era tão difícil, nessa época, porque havia sempre uma frase verdadeira que eu conhecia, tinha lido ou ouvido alguém dizer. Se começasse a escrever rebuscadamente, ou como estivesse defendendo ou apresentando alguma coisa, achava logo que podia cortar esses floreados ou ornamentos, jogá-los fora, e começar com a primeira proposição afirmativa verdadeira e simples que tivesse escrito. Foi lá naquele quarto que decidi escrever um conto a respeito de cada coisa que conhecesse realmente bem. Era o que me esforçava por fazer sempre e esse método constituía uma boa e severa disciplina.

Foi naquele quarto, também, que aprendi a não pensar mais sobre o que estivesse escrevendo, desde o momento em que parasse até começar de novo, no dia seguinte. Desse modo, esperava eu, o subconsciente ficaria trabalhando no assunto e ao mesmo tempo, eu daria ouvidos às outras pessoas e perceberia o mundo em torno de mim; estaria aprendendo, esperava eu: poderia ler muitos livros, a fim de não me obcecar com meu próprio trabalho e tornar-me impotente para fazê-lo. Descer as escadas quando tinha trabalhado bem – o que requeria tanto de sorte quanto de disciplina – era uma sensação maravilhosa e só então me julgava livre para andar a esmo em Paris.“

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