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Verão - Cenas da vida na província

Autor

J. M. Coetzee

Editora

Companhia Das Letras

Tradução

José Rubens Siqueira

Dia ruim. O escritor anota no diário. Nas páginas de trás: Modos de acabar consigo mesmo

“... Um homem, um escritor, mantém um diário. Nele anota pensamentos, ideias, acontecimentos significativos.

As coisas viram para o pior em sua vida. “Dia ruim”, ele escreve no diário, sem elaboração. “Dia ruim”, ele escreve dia após dia.

Cansado de chamar cada dia de dia ruim, ele decide simplesmente marcar os dias ruins com um asterisco, como algumas pessoas (mulheres) marcam com uma cruz vermelha os dias em que vão menstruar, ou como outras pessoas (homens, mulherengos) marcam com um X os dias em que obtiveram algum êxito.

Os dias ruins se acumulam; os asteriscos se multiplicam como a praga das moscas.

A poesia, se ele conseguisse escrever poesia, podia levá-lo à raiz do mal-estar, esse mal-estar que brota na forma de asteriscos. Mas a primavera da poesia nele parece ter secado.

Pode recorrer à prosa. Em teoria, a prosa pode ter a mesma mágica purificadora que a poesia. Mas ele tem dúvidas a respeito. A prosa, em sua experiência, pede muito mais palavras do que a poesia. Não faz sentido embarcar na prosa se a pessoa não tem a segurança de que vai estar vivo no dia seguinte para prosseguir a tarefa.

Ele brinca com ideias assim – a ideia de poesia, a ideia de prosa – como meio de não escrever.

Nas páginas de trás de seu diário, ele faz uma lista. Uma delas tem como título Modos de acabar consigo mesmo. Na coluna da esquerda ele lista Métodos, na coluna da direita, Desvantagens.“

Para que servem os livros?

“... “Você acredita mesmo nisso?", ele perguntou. "Que livros dão sentido às nossas vidas?”

"Acredito", eu respondi. "Um livro deve ser um machado para abrir o mar congelado dentro de nós. O que mais ele seria?”

"Um gesto de recusa diante da época. Uma aposta na imortalidade."

"Ninguém é imortal. Livros não são imortais. O globo todo em que pisamos vai ser sugado pelo sol e queimado até virar cinzas. E depois disso o próprio universo vai implodir e desaparecer num buraco negro. Nada vai sobreviver, nem eu, nem você, e com toda certeza nem a minoria interessada em livros sobre homens da fronteira imaginários da África do Sul do século XVIII.

"Eu não quis dizer imortal no sentido de existir fora do tempo. Quis dizer sobreviver além da própria morte física.”

"Quer que as pessoas leiam seus livros depois que você morrer?"

"Me dá alguma consolação contar com essa perspectiva.”

"Mesmo você não estando mais aqui para saber?"

"Mesmo eu não estando mais aqui para saber."

“Mas por que as pessoas do futuro deveriam se dar ao trabalho de ler o livro que você escreve se ele não disser nada a elas, se não ajudar as pessoas a encontrar um sentido para a vida delas?”

“Talvez elas ainda gostem de ler livros que são bem escritos.”

"Isso é bobagem. É a mesma coisa que dizer que se eu fizer uma radiovitrola muito boa ela ainda vai estar sendo usada pelas pessoas no século XXV. Mas não vai. Porque uma radiovitrola, por mais benfeita que seja, vai estar obsoleta. Não vai significar nada para as pessoas do século XXV."

“Talvez no século XXV ainda exista uma minoria com curiosidade para saber como soava uma radiovitrola do final do século XX.”

“Colecionadores. Gente que tem hobby. E assim que você pretende passar a sua vida: sentado na sua mesa manufaturando um objeto que pode ou não ser preservado como curiosidade?"

 Ele deu de ombros. "Tem alguma ideia melhor?"

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