Elizabeth Finch
Autor
Julian Barnes
Editora
Rocco
Tradução
Léa Viveiros de Castro
Felizes famílias infelizes
“... Mas eu diria uma coisa: aquela citação famosa de que todas as famílias felizes são felizes da mesma maneira, e todas as famílias infelizes são infelizes de maneiras diferentes umas das outras. Sempre achei que é o contrário. A maioria das famílias infelizes que eu conheci — inclusive as minhas duas famílias — foram infelizes de acordo com fórmulas bem repetitivas; enquanto que as famílias felizes são, e essa não é uma norma complacente, quase sempre, o resultado de qualidades e esforços individuais. Mas existe, ainda, uma terceira categoria, a de famílias que fingem ser felizes ou que lembram falsamente que foram felizes um dia: “Entender erradamente a nossa história faz parte de ser uma família!” Ao passo que não imagino que existam famílias que sejam felizes e, entretanto, afirmam falsamente que são infelizes. “
A correta compreensão filosófica da vida
“... Me lembro de sofrer quando EF nos dava aula sobre as ideias de Epiteto e dos Estoicos.
— O que era aquilo que ela costumava citar sobre algumas coisas dependerem de nós...
— “Há coisas que dependem de nós, e há coisas que não dependem de nós…”
— Continue.
— “E que deveríamos aprender a distinguir umas das outras e compreender que não há nada a se fazer a respeito do que não depende de nós, e que reconhecer isto nos leva a uma compreensão filosófica correta da vida.”
— E felicidade? — perguntei.
— Acho que os estoicos achavam que uma compreensão correta da vida era o que outras pessoas, menos filosóficas, como você e eu, podiam chamar de felicidade.
Fiquei contente por ela nos ter incluído em condições de igualdade — mesmo sendo condições de inadequação.
— Então compreender é o bem maior?
— É claro.
— OK, então me responda o seguinte: o amor é algo que depende de nós ou algo que não depende de nós? O que EF teria dito a respeito disso?
Anna fez uma pausa.
— Acho que ela teria dito que a maioria das pessoas imagina que ele depende delas, mas que, na realidade, ele não depende de jeito nenhum.
— E devemos reconhecer isto se quisermos viver uma vida verdadeiramente filosófica; o que, convenhamos, não interessa a mínima para a maioria das pessoas. Além do mais, já está ficando um pouco tarde para concordarmos com isso. “