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O sentido de um fim
Autor
Julian Barnes
Editora
Rocco
Tradução
Léa Viveiros de Castro
A probabilidade é levar uma vida mediana
"... Então eu pensei mais em Adrian. Desde o início, ele tinha enxergado com mais clareza do que o resto de nós. Enquanto nós nos deleitávamos nas trevas da adolescência, imaginando que a nossa insatisfação rotineira fosse uma resposta original à condição humana, Adrian já estava olhando mais à frente e mais longe. Ele sentia a vida com mais clareza também — até mesmo, talvez parcialmente, quando chegou à conclusão de que ela não valia a pena. Comparado a ele, eu sempre fui um enrolado, incapaz de aprender muito com as poucas lições que a vida me deu. Na minha maneira de pensar, eu me preparei para a realidade da vida e me submeti às suas necessidades: se acontecer isto, faço aquilo, e assim os anos se passaram. Na maneira de pensar de Adrian, eu desisti da vida, desisti de examiná-la, aceitei-a como ela se apresentou. E assim, pela primeira vez, eu comecei a sentir um remorso mais geral — um sentimento que ficava entre a autopiedade e a autodepreciação — em relação a toda a minha vida. Toda ela. Eu tinha perdido os amigos da minha juventude. Eu tinha perdido o amor da minha esposa. Eu tinha abandonado as ambições que tivera. Eu tinha preferido não ser muito incomodado pela vida e tinha conseguido — e como isso era patético.
Mediano, isso era o que eu tinha sido, desde que terminei a escola. Mediano na universidade e no trabalho; mediano na amizade, lealdade, no amor; mediano, sem dúvida, no sexo. Houve uma pesquisa feita com motoristas britânicos alguns anos atrás revelando que 95% dos entrevistados achavam que eram motoristas “melhores do que a média”. Mas, pela lei das probabilidades, a maioria de nós está destinada a ser mediana. Não que isto sirva de consolo. A palavra ficou ecoando. Mediano na vida; mediano na verdade; mediano moralmente. A primeira reação de Veronica quando me viu de novo foi comentar que eu tinha perdido cabelo. Isso não era nada."